10 de jul. de 2015

Maratona de Divulgação #LeiaJackaby

Olá leitores! Tudo bem com vocês?
Hoje é dia de conhecermos um pouco mais do Livro Jackaby publicado pelo Selo Única Editora.

Semana passada já tivemos um post falando desse livro e hoje vamos conhecer um pouco mais da história

Confira também o post da semana passada:
Maratona #LeiaJackaby

Hoje você terá acesso ao primeiro capitulo:

CAPÍTULO 1 
Era final de janeiro e New England tinha uma nova camada de neve, à medida que eu descia a rampa do navio, até a margem. A cidade de New Fiddleham resplandecia sob o crepúsculo, o reflexo da iluminação a gás dançava sobre as edificações gélidas que perfilavam a costa, transformando as fachadas de tijolinhos em diamantes que cintilavam na escuridão. No breu do Oceano Atlântico, o brilho dos postes tremulava. Eu seguia em frente, carregando tudo que trouxera comigo em uma única mala. A terra firme sob meus pés deu uma sensação estranha, depois de tantas semanas ao mar, com prédios altos à minha volta, de todas as direções. Eu conheceria bem essa cidade, porém, naquele inverno frio de 1892, cada janela iluminada e cada beco escuro eram estranhos, cheios de perigos ocultos e mistérios sedutores. Não era uma cidade velha — pelo menos, não segundo o padrão daquelas que vira em minhas viagens —, mas mostrava-se com toda pompa robusta e solidez de granito de qualquer cidade europeia portuária. Eu já havia estado em vilarejos montanhosos na Ucrânia, cidades na Polônia e Alemanha, e em regiões rurais da minha nativa Inglaterra, mas ainda tinha dificuldades em não me intimidar com o reverberar do porto norte--americano movimentado. Mesmo quando as últimas luzes iam sumindo do céu, ao anoitecer, o cais ainda permanecia ativo, com silhuetas obscuras apressadas, cuidando de seus assuntos.
O dono de uma loja estava fechando as janelas, após o expediente. Marinheiros de folga passeavam pelo porto em busca de diversões extravagantes com que gastar o dinheiro conquistado a duras penas — e mulheres de decotes generosos pareciam ávidas por ajudá-los a gastarem ainda mais depressa. Vi meu pai em um homem confiante e bem-sucedido, provavelmente voltando com calma para casa já bem tarde, depois de dedicar a noite toda a um trabalho importante em vez de estar com a família que o aguardava. Uma jovem do outro lado do ancoradouro segurou o casaco de inverno, fechando-o com mais força, e baixou o queixo, quando um grupo de marinheiros passou. Os ombros dela talvez tenham tremido, apenas ligeiramente, mas ela seguiu seu rumo, sem deixar que o riso ruidoso dos homens atrapalhasse seu trajeto. Nela, eu me vi, como uma garota perdida, obstinada, rumando para qualquer lugar, menos para casa. Uma brisa gélida varria o píer e subia por baixo da bainha do meu vestido e do casaco grosso. Precisei erguer a mão para segurar o velho quepe de tweed na cabeça, para que não voasse. Era uma moda de menino — meu pai chamava de chapéu de entregador de jornal —, mas, durante os últimos meses, eu passara a me sentir confortável com ele. Pela primeira vez, vi-me desejando ter optado pelas desnecessárias anáguas que minha mãe sempre insistia serem tão importantes a um vestido apropriado para uma dama. O modelo do meu vestido verde simples era excelente para se movimentar, mas o tecido não ajudava em nada a conter o clima gelado. Ergui a gola de lã, caminhando contra a neve, e segui adiante. Em meus bolsos tilintava um punhado de moedas que haviam restado do meu trabalho no estrangeiro. Eu sabia que não seriam suficientes para comprar nada além de compaixão, e somente se barganhasse muito bem. No entanto, os rostos desconhecidos que exibiam contavam uma história e eu estava feliz pela companhia do tilintar, enquanto seguia pesadamente em frente, pela neve afora, rumo a uma hospedaria. Um cavalheiro de casaco marrom comprido e um cachecol enrolado até as sobrancelhas segurou a porta aberta para mim, à medida que entrei. Espanei os flocos de neve do cabelo, enquanto pendurava o chapéu e o casaco ao lado da porta, colocando minha mala abaixo deles. O lugar cheirava a carvalho, madeira de lareira e cerveja, e o calor de um fogo saudável fez minhas bochechas ganharem vida. Havia meia dúzia de clientes sentados, espalhados por três ou quatro mesinhas redondas de madeira. No canto dos fundos havia um piano com a banqueta desocupada. Como havia estudado piano ao longo do Ensino Fundamental — minha mãe insistia que uma dama deveria tocar um instrumento —, conhecia algumas melodias de cor. Ela desmaiaria, porém, se me visse colocar sua fina cultura em uso tão vulgar, principalmente desacompanhada, nessa estranha taberna norte-americana. Rapidamente desviei meus pensamentos da prudência dominadora de minha mãe, pois talvez visse, por fim, algum sentido nisso. Estampei meu sorriso mais encantador no rosto e abordei o barman. À medida que me aproximei, ele ergueu uma sobrancelha farta, causando uma onda de rugas em sua cabeça careca. — Boa tarde, senhor — eu disse, junto ao bar. — Meu nome é Abigail Rook. Acabei de desembarcar de um navio e, no momento, encontro-me meio desprevenida, financeiramente. Gostaria de saber se poderia colocar meu chapéu em seu piano e tocar algumas... O bartender interrompeu:— Está quebrado. Já faz algumas semanas. Meu desânimo deve ter ficado aparente, pois ele me olhou solidário, quando me virei para sair. — Mas, espere aí. — Ele serviu uma caneca gelada e a deslizou no bar, para mim, assentindo e dando uma piscada bondosa. — Sente-se por um tempinho, senhorita, e espere a neve passar. Eu disfarcei minha surpresa por trás de um grande sorriso, e sentei-me numa banqueta junto ao bar, ao lado do piano quebrado. Dei uma olhada em volta, para os outros clientes, novamente ouvindo a voz de minha mãe, em minha cabeça, alertando-me para que eu estava parecendo “aquele tipo de garota” e, pior, os bêbados degenerados que frequentam esses lugares grudariam os olhos em mim, feito lobos olhando um carneirinho perdido. Na verdade, os bêbados degenerados pareceram nem me notar. A maioria parecia até bem agradável, talvez cansados, após um longo dia, e dois deles estavam jogando um educado jogo de xadrez, nos fundos do salão. Segurar a caneca de cerveja ainda era esquisito, como se eu devesse ficar olhando para trás, nervosa, à espera do diretor da escola. Não era meu primeiro drinque, mas eu não estava acostumada a ser tratada como adulta. Olhei meu reflexo numa janela gélida. Fazia quase um ano que eu tinha deixado a costa da Inglaterra, mas a jovem rude me olhando de volta do vidro era quase irreconhecível. A maresia havia roubado um pouco da maciez de minhas bochechas e minha pele estava bronzeada — ao menos para o padrão inglês. Meus cabelos não estavam caprichosamente trançados e amarrados com fitas, como minha mãe sempre gostou, mas presos num coque simples que talvez parecesse ligeiramente matronal, se o vento não tivesse soltado algumas mechas finas que pendiam sobre a minha gola. A garota que fugira do alojamento havia desaparecido, substituída por essa mulher desconhecida. Forcei a atenção para além do reflexo dos flocos brancos que pulavam diante do poste de luz a gás, mais além. Enquanto segurava a bebida amarga, aos poucos fui me dando conta de um corpo em pé, atrás de mim. Virei devagar, e quase derrubei a caneca. Acho que foram os olhos que mais me espantaram, arregalados, encarando-me com uma expressão curiosa. Foram os olhos — e o fato de que ele estava a menos de um passo da minha banqueta, ligeiramente inclinado para a frente, de forma que meu nariz e o dele quase colidiram, quando me virei. Ele tinha cabelos pretos, ou castanhos bem escuros, e estavam meio despenteados, com apenas um punhado em ordem, para trás, e uma porção de mechas espetadas, perto das têmporas. As maçãs do rosto eram saltadas e ele tinha olheiras profundas, sob os olhos cinzentos enevoados. Seus olhos pareciam ter séculos de vida, mas, fora isso, ele tinha um semblante jovem e uma energia vibrante. Eu recuei um pouco, para olhá-lo. Ele era magro e angular, e seu casaco marrom era provavelmente tão abrutalhado quanto ele. Batia abaixo dos joelhos, pendendo com o peso de bolsos visivelmente entulhados. Sua lapela trazia um cachecol comprido de lã, quase tão comprido quanto o casaco que reconheci por ter passado por ele quando entrei. Ele deve ter voltado para me seguir. — Olá? — eu consegui dizer, quando recuperei o equilíbrio em cima da minha banqueta. — Posso ajudar...? — Você chegou recentemente da Ucrânia. — Não foi uma pergunta. Sua voz era calma e equilibrada, mas parecia mais... entretida? Ele prosseguiu, com os olhos cinzentos dançando, como se pesquisassem cada pensamento, por alguns segundos, antes que sua boca lhe desse voz. — Você viajou passando pela Alemanha e depois, a uma grande distância, num navio volumoso... feito de ferro, eu apostaria. Ele inclinou a cabeça para o lado, enquanto me olhava, mas não diretamente nos olhos, sempre desviava um pouco, como se fascinado pelo meu cabelo, ou meus ombros. Eu havia aprendido a descartar a atenção dos meninos no colégio, mas isso era algo totalmente diferente. Ele conseguia parecer interessado e desinteressado em mim ao mesmo tempo. Era mais que apenas inquietante, mas eu me vi tão intrigada quanto nervosa. Tardando a entender, eu lhe dei um sorriso e disse:— Ah, o senhor também desembarcou do Lady Charlotte, não foi? Desculpe, nós nos encontramos no deque? O homem pareceu verdadeiramente confuso e por fim olhou nos meus olhos. — Lady quem? Do que está falando? — O Lady Charlotte — eu repeti. — O navio mercante de Bremerhaven. Não era um passageiro? — Nunca encontrei a dama. Ela soa horrenda. O homem esquisito e magro voltou a me inspecionar, aparentemente muito mais impressionado pelo meu cabelo e a bainha da minha jaqueta do que pela minha conversa. — Bem, se não viajamos juntos, como poderia saber... ah, deve ter dado uma olhada nas etiquetas da minha bagagem. — Eu tentei permanecer casual, mas me inclinei para trás, à medida que o homem se aproximou ainda mais, inspecionando-me. O balcão de carvalho grudou desconfortavelmente em minhas costas. Ele tinha um leve aroma de cravo e canela. — Não fiz nada dessa natureza. Isso seria uma rude invasão de privacidade — o homem disse, secamente, ao tirar um cisco da minha manga, analisá-lo e guardar em seu casaco largo. — Já entendi —anunciei. — O senhor é detetive, não é? — Os olhos do homem pararam de se mover de um lado ao outro, e voltaram a se fixar nos meus. Desta vez, eu sabia que tinha sua atenção. — Sim, o senhor é como um, como é mesmo o nome... não é? O que dá consultoria à Scotland Yard, naquelas histórias, certo? Então, o que foi? Deixe-me adivinhar, sentiu o cheiro da maresia em meu casaco e eu tenho algum tom de argila grudado em meu vestido, ou algo assim? O que foi? O homem pensou, por um momento, antes de responder. — Sim — disse ele, finalmente. — Algo assim. Ele esboçou um sorriso fraco, depois deu meia- -volta e saiu, jogando o cachecol em volta da cabeça, ao seguir rumo à porta. Enfiou um gorro de tricô que cobria as orelhas e abriu a porta, retraindo-se diante do vento gélido que revolveu ao seu redor. À medida que a porta se fechava devagar, tive um último vislumbre dos olhos cinzentos enevoados, entre as beiradas de lã do cachecol e da touca. E o homem se foi. Em seguida ao curioso encontro, perguntei ao barman se ele sabia algo sobre o estranho. O homem riu e revirou os olhos. — Eu tenho ouvido muita coisa e uma ou outra pode até ser verdade. Quase todo mundo tem uma história sobre esse aí. Não é verdade, meninos? — Alguns dos locais riram e começaram a relembrar fragmentos de histórias que eu não consegui entender. — Você se lembra daquele negócio com o gato e os nabos? — Ou do incêndio maluco, na casa do prefeito? — Meu primo jura por ele mesmo, e jura pelos monstros marinhos e pelas sereias. Para os dois cavalheiros diante do tabuleiro de xadrez, minha pergunta foi a centelha de um assunto aparentemente esquecido, que logo resultou numa discussão sobre superstições e ingenuidade. Não tardou para que cada um deles atraísse os clientes das mesas em volta, alguns insistindo que o homem era um charlatão, outros o elogiando como se fosse um enviado de Deus. Em meio à confusão, pelo menos pude ouvir o nome do homem estranho. Ele era o senhor R. F. Jackaby....

Semana que Vem teremos um pouco mais dessa história, você não perde por esperar!!!


6 comentários:

  1. Que toooooooop! Quando sai o segundo capítulo? 😍😍😍

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  2. Super me interessei pelo livro lendo o primeiro capítulo, preciso deste livro.
    Adorei demais, sem dúvidas lerei o livro.

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  3. Adoreiii,já o coloquei na minha lista,ainda essa semana o comprarei,e a resenha foi sem dúvida de muito ajuda para me decidir :D

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  4. Oi, já estava louca para ler o livro e agora, lendo o primeiro capítulo, aqui que não vou poder demorar para ler. Bjus.

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  5. Muito interessante... Empolgada pra conhecer mais sobre a história...;-)

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  6. Oi, tudo bem?
    Estou interessada muito neste livro.
    Pelo primeiro capítulo da para ter noção da narrativa ao longo do livro.
    Confesso que ler um trecho antes me deixa muito ansiosa rs

    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

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