Olá leitores! Tudo bem com vocês?
Hoje é dia de conhecermos um pouco mais do Livro Jackaby publicado pelo Selo Única Editora.
Semana passada já tivemos um post falando desse livro e hoje vamos conhecer um pouco mais da história
Confira também o post da semana passada:
Maratona #LeiaJackaby
Hoje você terá acesso ao primeiro capitulo:
CAPÍTULO 1
Era final de janeiro e New England tinha uma nova
camada de neve, à medida que eu descia a rampa
do navio, até a margem. A cidade de New Fiddleham
resplandecia sob o crepúsculo, o reflexo da iluminação a
gás dançava sobre as edificações gélidas que perfilavam
a costa, transformando as fachadas de tijolinhos em
diamantes que cintilavam na escuridão. No breu do
Oceano Atlântico, o brilho dos postes tremulava. Eu seguia
em frente, carregando tudo que trouxera comigo em uma
única mala. A terra firme sob meus pés deu uma sensação
estranha, depois de tantas semanas ao mar, com prédios
altos à minha volta, de todas as direções. Eu conheceria
bem essa cidade, porém, naquele inverno frio de 1892,
cada janela iluminada e cada beco escuro eram estranhos,
cheios de perigos ocultos e mistérios sedutores.
Não era uma cidade velha — pelo menos, não segundo
o padrão daquelas que vira em minhas viagens —, mas
mostrava-se com toda pompa robusta e solidez de granito
de qualquer cidade europeia portuária. Eu já havia estado
em vilarejos montanhosos na Ucrânia, cidades na Polônia
e Alemanha, e em regiões rurais da minha nativa Inglaterra,
mas ainda tinha dificuldades em não me intimidar com
o reverberar do porto norte--americano movimentado.
Mesmo quando as últimas luzes iam sumindo do céu, ao
anoitecer, o cais ainda permanecia ativo, com silhuetas
obscuras apressadas, cuidando de seus assuntos.
O dono de uma loja estava fechando as janelas, após
o expediente. Marinheiros de folga passeavam pelo porto
em busca de diversões extravagantes com que gastar
o dinheiro conquistado a duras penas — e mulheres
de decotes generosos pareciam ávidas por ajudá-los a
gastarem ainda mais depressa. Vi meu pai em um homem
confiante e bem-sucedido, provavelmente voltando com
calma para casa já bem tarde, depois de dedicar a noite
toda a um trabalho importante em vez de estar com a
família que o aguardava.
Uma jovem do outro lado do ancoradouro segurou o
casaco de inverno, fechando-o com mais força, e baixou
o queixo, quando um grupo de marinheiros passou. Os
ombros dela talvez tenham tremido, apenas ligeiramente,
mas ela seguiu seu rumo, sem deixar que o riso ruidoso
dos homens atrapalhasse seu trajeto. Nela, eu me vi, como
uma garota perdida, obstinada, rumando para qualquer
lugar, menos para casa.
Uma brisa gélida varria o píer e subia por baixo da
bainha do meu vestido e do casaco grosso. Precisei
erguer a mão para segurar o velho quepe de tweed na
cabeça, para que não voasse. Era uma moda de menino
— meu pai chamava de chapéu de entregador de jornal
—, mas, durante os últimos meses, eu passara a me sentir
confortável com ele. Pela primeira vez, vi-me desejando
ter optado pelas desnecessárias anáguas que minha
mãe sempre insistia serem tão importantes a um vestido
apropriado para uma dama. O modelo do meu vestido verde simples era excelente para se movimentar, mas o
tecido não ajudava em nada a conter o clima gelado. Ergui
a gola de lã, caminhando contra a neve, e segui adiante.
Em meus bolsos tilintava um punhado de moedas que
haviam restado do meu trabalho no estrangeiro. Eu sabia
que não seriam suficientes para comprar nada além de
compaixão, e somente se barganhasse muito bem. No
entanto, os rostos desconhecidos que exibiam contavam
uma história e eu estava feliz pela companhia do tilintar,
enquanto seguia pesadamente em frente, pela neve
afora, rumo a uma hospedaria.
Um cavalheiro de casaco marrom comprido e um
cachecol enrolado até as sobrancelhas segurou a porta
aberta para mim, à medida que entrei. Espanei os flocos
de neve do cabelo, enquanto pendurava o chapéu e o
casaco ao lado da porta, colocando minha mala abaixo
deles. O lugar cheirava a carvalho, madeira de lareira
e cerveja, e o calor de um fogo saudável fez minhas
bochechas ganharem vida. Havia meia dúzia de clientes
sentados, espalhados por três ou quatro mesinhas
redondas de madeira.
No canto dos fundos havia um piano com a banqueta
desocupada. Como havia estudado piano ao longo
do Ensino Fundamental — minha mãe insistia que
uma dama deveria tocar um instrumento —, conhecia
algumas melodias de cor. Ela desmaiaria, porém, se
me visse colocar sua fina cultura em uso tão vulgar,
principalmente desacompanhada, nessa estranha taberna norte-americana. Rapidamente desviei meus
pensamentos da prudência dominadora de minha mãe,
pois talvez visse, por fim, algum sentido nisso. Estampei
meu sorriso mais encantador no rosto e abordei o
barman. À medida que me aproximei, ele ergueu uma
sobrancelha farta, causando uma onda de rugas em
sua cabeça careca. — Boa tarde, senhor — eu disse,
junto ao bar. — Meu nome é Abigail Rook. Acabei de
desembarcar de um navio e, no momento, encontro-me
meio desprevenida, financeiramente. Gostaria de saber
se poderia colocar meu chapéu em seu piano e tocar
algumas...
O bartender interrompeu:— Está quebrado. Já faz
algumas semanas.
Meu desânimo deve ter ficado aparente, pois ele me
olhou solidário, quando me virei para sair. — Mas, espere
aí. — Ele serviu uma caneca gelada e a deslizou no bar,
para mim, assentindo e dando uma piscada bondosa. —
Sente-se por um tempinho, senhorita, e espere a neve
passar.
Eu disfarcei minha surpresa por trás de um grande
sorriso, e sentei-me numa banqueta junto ao bar, ao lado
do piano quebrado. Dei uma olhada em volta, para os
outros clientes, novamente ouvindo a voz de minha mãe,
em minha cabeça, alertando-me para que eu estava
parecendo “aquele tipo de garota” e, pior, os bêbados
degenerados que frequentam esses lugares grudariam
os olhos em mim, feito lobos olhando um carneirinho perdido. Na verdade, os bêbados degenerados
pareceram nem me notar. A maioria parecia até bem
agradável, talvez cansados, após um longo dia, e dois
deles estavam jogando um educado jogo de xadrez, nos
fundos do salão. Segurar a caneca de cerveja ainda era
esquisito, como se eu devesse ficar olhando para trás,
nervosa, à espera do diretor da escola. Não era meu
primeiro drinque, mas eu não estava acostumada a ser
tratada como adulta.
Olhei meu reflexo numa janela gélida. Fazia quase
um ano que eu tinha deixado a costa da Inglaterra, mas
a jovem rude me olhando de volta do vidro era quase
irreconhecível. A maresia havia roubado um pouco
da maciez de minhas bochechas e minha pele estava
bronzeada — ao menos para o padrão inglês. Meus
cabelos não estavam caprichosamente trançados e
amarrados com fitas, como minha mãe sempre gostou,
mas presos num coque simples que talvez parecesse
ligeiramente matronal, se o vento não tivesse soltado
algumas mechas finas que pendiam sobre a minha gola.
A garota que fugira do alojamento havia desaparecido,
substituída por essa mulher desconhecida.
Forcei a atenção para além do reflexo dos flocos
brancos que pulavam diante do poste de luz a gás, mais
além. Enquanto segurava a bebida amarga, aos poucos
fui me dando conta de um corpo em pé, atrás de mim.
Virei devagar, e quase derrubei a caneca.
Acho que foram os olhos que mais me espantaram,
arregalados, encarando-me com uma expressão
curiosa. Foram os olhos — e o fato de que ele estava
a menos de um passo da minha banqueta, ligeiramente
inclinado para a frente, de forma que meu nariz e o dele
quase colidiram, quando me virei.
Ele tinha cabelos pretos, ou castanhos bem escuros,
e estavam meio despenteados, com apenas um
punhado em ordem, para trás, e uma porção de mechas
espetadas, perto das têmporas. As maçãs do rosto eram
saltadas e ele tinha olheiras profundas, sob os olhos
cinzentos enevoados. Seus olhos pareciam ter séculos
de vida, mas, fora isso, ele tinha um semblante jovem e
uma energia vibrante.
Eu recuei um pouco, para olhá-lo. Ele era magro
e angular, e seu casaco marrom era provavelmente
tão abrutalhado quanto ele. Batia abaixo dos joelhos,
pendendo com o peso de bolsos visivelmente
entulhados. Sua lapela trazia um cachecol comprido de
lã, quase tão comprido quanto o casaco que reconheci
por ter passado por ele quando entrei. Ele deve ter
voltado para me seguir.
— Olá? — eu consegui dizer, quando recuperei o
equilíbrio em cima da minha banqueta. — Posso ajudar...?
— Você chegou recentemente da Ucrânia. — Não
foi uma pergunta. Sua voz era calma e equilibrada,
mas parecia mais... entretida? Ele prosseguiu, com os
olhos cinzentos dançando, como se pesquisassem cada
pensamento, por alguns segundos, antes que sua boca lhe desse voz. — Você viajou passando pela Alemanha
e depois, a uma grande distância, num navio volumoso...
feito de ferro, eu apostaria.
Ele inclinou a cabeça para o lado, enquanto me
olhava, mas não diretamente nos olhos, sempre desviava
um pouco, como se fascinado pelo meu cabelo, ou meus
ombros. Eu havia aprendido a descartar a atenção dos
meninos no colégio, mas isso era algo totalmente diferente.
Ele conseguia parecer interessado e desinteressado em
mim ao mesmo tempo. Era mais que apenas inquietante,
mas eu me vi tão intrigada quanto nervosa.
Tardando a entender, eu lhe dei um sorriso e disse:—
Ah, o senhor também desembarcou do Lady Charlotte,
não foi? Desculpe, nós nos encontramos no deque?
O homem pareceu verdadeiramente confuso e por
fim olhou nos meus olhos. — Lady quem? Do que está
falando?
— O Lady Charlotte — eu repeti. — O navio mercante
de Bremerhaven. Não era um passageiro? — Nunca
encontrei a dama. Ela soa horrenda.
O homem esquisito e magro voltou a me inspecionar,
aparentemente muito mais impressionado pelo meu
cabelo e a bainha da minha jaqueta do que pela minha
conversa.
— Bem, se não viajamos juntos, como poderia
saber... ah, deve ter dado uma olhada nas etiquetas
da minha bagagem. — Eu tentei permanecer casual,
mas me inclinei para trás, à medida que o homem se
aproximou ainda mais, inspecionando-me. O balcão de
carvalho grudou desconfortavelmente em minhas costas.
Ele tinha um leve aroma de cravo e canela.
— Não fiz nada dessa natureza. Isso seria uma rude
invasão de privacidade — o homem disse, secamente, ao
tirar um cisco da minha manga, analisá-lo e guardar em
seu casaco largo. — Já entendi —anunciei. — O senhor
é detetive, não é? — Os olhos do homem pararam de
se mover de um lado ao outro, e voltaram a se fixar nos
meus. Desta vez, eu sabia que tinha sua atenção. — Sim,
o senhor é como um, como é mesmo o nome... não é?
O que dá consultoria à Scotland Yard, naquelas histórias,
certo? Então, o que foi? Deixe-me adivinhar, sentiu o
cheiro da maresia em meu casaco e eu tenho algum tom
de argila grudado em meu vestido, ou algo assim? O que
foi?
O homem pensou, por um momento, antes de
responder. — Sim — disse ele, finalmente. — Algo assim.
Ele esboçou um sorriso fraco, depois deu meia-
-volta e saiu, jogando o cachecol em volta da cabeça,
ao seguir rumo à porta. Enfiou um gorro de tricô que
cobria as orelhas e abriu a porta, retraindo-se diante do
vento gélido que revolveu ao seu redor. À medida que a
porta se fechava devagar, tive um último vislumbre dos
olhos cinzentos enevoados, entre as beiradas de lã do
cachecol e da touca.
E o homem se foi.
Em seguida ao curioso encontro, perguntei ao barman se ele sabia algo sobre o estranho. O homem
riu e revirou os olhos. — Eu tenho ouvido muita coisa e
uma ou outra pode até ser verdade. Quase todo mundo
tem uma história sobre esse aí. Não é verdade, meninos?
— Alguns dos locais riram e começaram a relembrar
fragmentos de histórias que eu não consegui entender.
— Você se lembra daquele negócio com o gato e os
nabos?
— Ou do incêndio maluco, na casa do prefeito?
— Meu primo jura por ele mesmo, e jura pelos
monstros marinhos e pelas sereias.
Para os dois cavalheiros diante do tabuleiro de
xadrez, minha pergunta foi a centelha de um assunto
aparentemente esquecido, que logo resultou numa
discussão sobre superstições e ingenuidade. Não tardou
para que cada um deles atraísse os clientes das mesas
em volta, alguns insistindo que o homem era um charlatão,
outros o elogiando como se fosse um enviado de Deus.
Em meio à confusão, pelo menos pude ouvir o nome do
homem estranho. Ele era o senhor R. F. Jackaby....
Semana que Vem teremos um pouco mais dessa história, você não perde por esperar!!!
Que toooooooop! Quando sai o segundo capítulo? 😍😍😍
ResponderExcluirSuper me interessei pelo livro lendo o primeiro capítulo, preciso deste livro.
ResponderExcluirAdorei demais, sem dúvidas lerei o livro.
Adoreiii,já o coloquei na minha lista,ainda essa semana o comprarei,e a resenha foi sem dúvida de muito ajuda para me decidir :D
ResponderExcluirOi, já estava louca para ler o livro e agora, lendo o primeiro capítulo, aqui que não vou poder demorar para ler. Bjus.
ResponderExcluirMuito interessante... Empolgada pra conhecer mais sobre a história...;-)
ResponderExcluirOi, tudo bem?
ResponderExcluirEstou interessada muito neste livro.
Pelo primeiro capítulo da para ter noção da narrativa ao longo do livro.
Confesso que ler um trecho antes me deixa muito ansiosa rs
livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br